segunda-feira, 25 de junho de 2012

indiferencia-me

Já há tempos que ando para rabiscar a minha indiferença.
Assim como eu, ela é minimalista e ridícula,
É fingida ao ponto de soar carnívora aos dentes dum predador.
A minha indiferença é a minha dor
Filtrada, fervida, congelada, arrumada, escondida.
A minha diferença é que eu sou apenas uma película
Que removo quando vivo, mas que quando sinto, sou eu.
Então, como brota a minha indiferença se sou eu que sinto
E se sinto é porque me aleija ou me afaga?
Mas o desinteresse pela dor também é meu,
Porque perante ti sou muda, cega e surda.
E nem a minha inferioridade me apaga
O desejo de querer ser indiferente.

domingo, 29 de abril de 2012

fugi


o mundo move-se com o mexer da colher
numa chavena de chá,
e eu parti com a maré, fugi de escolher.

corri com quatro pernas,
não dormi para não te sonhar.
tropecei e deixei-me arrastar.

e hoje, a distância são metros nos meus braços,
 cansaço nos meus ossos
de me estrangular nos nossos laços.

guiei a orquestra,
bati com as ondas na areia.
rasguei a nossa teia.

não supliquei,
mas arranhei o futuro.
desfiz-me de tudo
e vivi na insónia.

fui estalada na razão,
e descobri a atlântida.
para finalmente compreender
que te vivi em vão.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

há mar e o não voltar.


é difícil lembrar as palavras
que nunca saíram da tua boca.
nascem num mar de aspas
quando a emoção é de outra boca.

são águas de outro rio
que não passou perto do mar em que eu vivo.
juram-me que a água desse rio é fria
e na minha inconsciência renasce o arrepio.

existem dois mundos
existindo sobre nós:
um de amores tão profundos
e outro de amantes tão sós.

não transformemos o adeus num até breve
e arquivemos o passado.
se não há maré que te amarre
é porque estás no oceano errado.

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Crescer é uma incessante batalha contra o coração.


Aprende-se que amar tem custos
E que os lucros
São mais poucos que as feridas
Das palavras mal medidas.

O amor pesa nos ombros despidos,
Nos lábios abraçados e nos lençóis perdidos,
No lado em que a cama está fria,
O amor pesa e mata-nos a autonomia.

Coração que bate por alguém,
Bate porque é louco.
Pois não há ninguém
A viver por tão pouco.

Coração que existe porque ama
É coração que não sente,
Porque falta na alma
O que está ausente.

O amor assusta. Não saber
Quanto um coração bate.
Amar não é para quem quer
É para quem não parte.
A mão que esteve perto
Voou para outro corpo.
O que parecia futuro certo
É coração no fundo do copo.
Estamos nós os dois e o mundo
Mas o mundo está entre nós.
Os teus olhos foram tudo
Mas agora só restam os nós
Que ainda nos fazem andar.
Era amor maior mas agora jaz.
E agora, quem morre sou eu
Lágrimas em que a alma se desfaz,
É saudades tuas, e amor meu.

Peço desculpa se me magoas.
Que mais pode o meu corpo fazer?
Foram as tuas mãos que deixaram nódoas
Que agora só o tempo pode esconder.

O amor é bom em toda existência:
No não recíproco, no mal amado,
No platónico, na dependência,
No boémio, no que chega atrasado.
No que tem medo e está assustado,
No que não tenta e morre sem saber
Na despedida e no seu choro abafado
O amor é bom e sabe bem viver.

Amar é perder o juízo,
É dar um tiro no próprio pé.
Quanto eu queria ter um pouco dessa fé:
Ser louca e achar que isso é o que preciso.

A saudade é vulgar de quem sente.
É casa de férias onde se espera
Enquanto o outro corpo está ausente.
É ouvir um bater na porta e
Correr em direcção a ela.



Não espero pelo eterno,
O eterno torna-se velho.
Mas a paixão é algo moderno,
Dura enquanto há ainda se
Suporta o reflexo no espelho.

Há amores impossíveis
Que vivem no sangue dos amantes.
Escondendo as variáveis,
São apenas corpos expectantes.

Alma apaixonada é alma de criança,
Onde tudo é novo e brilhante.
Onde a visão está nublada pela confiança.
Onde até o fim da morte é cativante.



terça-feira, 31 de maio de 2011

o teu amor, agora meu.


Uma mão de terra suja,
Dois olhos de amargura.
Agarra o amor antes que fuja,
Antes que descubra a verdade dura:
O que somos já foi amado
E o nosso amor é já usado.

Amor que vem empacotado,
Vem com morada dum outro amante,
Vem com o coração pontapeado,
Vem com um cheiro distante.

segunda-feira, 30 de maio de 2011

boémia.

A poesia está nas olheiras
E nas noites que as ancoram.
Pessoas à mercê da vontade boémia
Que engole crenças, modos e maneiras.
Igualdade embebida nos gargalos já abertos
Nas gotas plasmas que perfuram barreiras,
Sendo a desinibição um eufemismo encoberto
De boa educação que falha nas alturas perfeitas.
São sorrisos e escárnios, canções d’outrora
São as nossas noites, as noites de quem Coimbra cuida.
Há amores encarando as estrelas longínquas
Como se fossem um relógio que entorta a hora.
E ouve-se as moedas e já parecem estrelas,
Corpos circulares, de cor dourada, luz.
As pressas ficam para quem ainda vê o tempo passar
Porque a consciência fica roncando baixinho
Sonhos que são estrelas, longínquos.
E sem pressa vive o imortal, nós só de alma
Porque o corpo no dia seguinte, é olheiras e voz rouca.
É dor de garganta, sonolência e a irresistível calma.
Mas que é também razão, sorrisos e memória
Para quem a noite parece sempre pouca.

segunda-feira, 14 de março de 2011

existir sem ser.

Há cansaço nas minhas artérias,
Cansaço das pessoas e das ideias.
Nada é excitante, tudo é decadente:
A minha vida surge como fim pendente.
Surge como conforto para quem me causou,
Porque além disso, sou um nada disfarçado.
Sou um fio entrelaçado
No meio de duas pontas que a vida cortou.
Poderia citar a vontade,
Mas realmente nunca a conheci.
Surge como paisagem longe da realidade,
Realidade na qual adormeci.